A importância da Metodologia para a produção científica nas universidades
- 21 de set. de 2014
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Atualizado: 21 de set. de 2021

RESUMO
O presente artigo pretende abordar, de modo conciso, a importância que a metodologia científica possui na produção acadêmica desenvolvida pelos graduandos nas universidades brasileiras. Toma como princípio uma apresentação genérica das etapas fundamentais da pesquisa, demonstrando a importância que cada uma delas possui na construção do saber acadêmico pretendido de ser construído nas universidades. A fundamentação teórica se dá no pensamento de Lakatos e Marconi, cujas obras acerca da temática abordada têm sido referenciais utilizados por pesquisadores – docentes e alunos, com resultados satisfatórios na sistematização do conhecimento. Foram consultadas obras reeditadas e reimpressas, que em sua reedição ou reimpressão trouxeram alguma revisão ou inserção de informações relevantes não contidas em obras anteriormente publicadas, o que justifica a presença e mesmos títulos nas referências.
INTRODUÇÃO
Apesar de sua utilidade e importância, a metodologia científica é, ainda hoje, tomada por muitos universitários como disciplina enfadonha e, por vezes, desnecessária, por se tratar de conjunto de regras e sistematizações que, ingenuamente, acreditam eles (os universitários) se tratar de simples formatação.
Entretanto, é ao término de um curso de graduação que se evidencia sua relevância quando, não havendo tempo hábil para recuperar os conteúdos, orientações e diretrizes de metodologia perdidos nas aulas, o acadêmico, ao contrário do que julgou ao longo do curso, necessita dos elementos metodológicos de que lançou mão, e começa agora uma odisséia em busca de auxílios imediatos que venham atender suas necessidades.
O presente artigo discute, de modo elucidativo, a importância que a metodologia possui na produção científica, sobretudo para os alunos das universidades brasileiras, considerado o contexto em que se dá tal problemática. Para proceder a elucidação pretendida, recorremos ao pensamento consolidado de Lakatos e Marconi, que tem sido tomado como referência por muitos pesquisadores e docentes de metodologia que, ao adotarem em suas pesquisas e planos de curso, tem obtido resultados eficazes na delimitação de estratégias e procedimentos que viabilizem as atividades acadêmicas junto aos graduandos.
A IMPORTÂNCIA DA METODOLOGIA PARA A PRODUÇÃO CIENTÍFICA
Ao contrário do que o senso comum desenvolveu ao longo dos anos no seio das universidades brasileiras, a metodologia científica não objetiva a elaboração de relatórios ou mesmo a descrição dos dados coletados em pesquisas empíricas. De acordo com Lakatos & Marconi (2003, p.83), todas as ciências caracterizam-se justamente pela utilização de métodos científicos, que são o “conjunto de atividades sistemáticas e racionais que, com maior segurança e economia, permitem alcançar o objetivo”.
A pesquisa possui a finalidade de relatar de modo sistêmico o seu desenvolvimento, com um caráter interpretativo acerca dos dados obtidos na coleta de dados. A confiabilidade atribuída à ciência reside talvez, justamente na adoção do método, tomado aqui como essas atividades sistemáticas que trazem segurança e economia ao processo de estudo em um determinado campo de pesquisa.
A fase inicial da pesquisa – também chamada de coleta de dados, exige do pesquisador muita leitura e reflexão, atividades que também têm se mostrado deficitárias entre os estudantes da graduação brasileira. Sobre a leitura, as autoras apontam que
É necessário ler muito, continuada e constantemente, pois a maior parte dos conhecimentos é obtida por intermédio da leitura [...]. Havendo disponíveis fontes para leitura e não sendo todas importantes, impõe-se uma seleção (LAKATOS; MARCONI, 1991, p. 19).
Assim como a leitura e a reflexão, a redação de um texto acadêmico exige “clareza e objetividade; linguagem direta, precisa e acessível; frases curtas e concisas e simplicidade, evitando-se estilo prolixo, retórico ou confuso” (LAKATOS; MARCONI, 2008, p.252). Muito se observa também que, ao redigir os resultados de uma pesquisa, nem sempre o pesquisador é bem sucedido, comprometendo a compreensão de sua análise justamente por não ter uma escrita competente.
A sistematização dos processos, sobretudo da leitura, da reflexão e da escrita, devem ser enfatizados. Entretanto, queremos destacar em nossa reflexão, o que entendemos como a gênese de todo processo investigativo, que é a seleção do assunto pretendido de ser pesquisado. A delimitação de um tema no tempo e no espaço confere ao pesquisador um encontro ímpar com o seu problema de pesquisa, aquele questionamento inicial que o motivou a debruçar-se sobre o universo conceitual selecionado. Inicia-se a pesquisa propriamente dita quando, teorias e conhecimentos relacionados ao objeto pesquisado começam a ser verificados.
A seleção do tema deve contemplar as inclinações, possibilidades, aptidões e tendências de quem se propõe a elaborar um trabalho de conclusão de curso, no caso por nós discutido, o graduando das universidades brasileiras, podendo ter origem em sua experiência pessoal ou profissional, em seus estudos ou mesmo na observação que realiza da realidade em seu entorno. Além dessas características pessoais, sua vocação acadêmica o pode levá-lo a perceber incoerências entre trabalhos acadêmicos ou a realizar analogias com temas estudados em outras disciplinas ou áreas científicas contempladas pelo seu curso de graduação.
Lakatos & Marconi (2008, p.129) afirmam que o problema de pesquisa compreende um enunciado que deve ser explicitado com clareza, sendo compreensível e operacional, e cuja solução possa ser obtida por meio da pesquisa. Objetivando encontrar respostas e sanar dúvidas, a formulação do problema de pesquisa, sendo o passo inicialde todo o processo, caracteriza sua importância e, na concepção de Lakatos & Marconi,
consiste em dizer, de maneira explícita, clara, compreensível e operacional, qual a dificuldade com a qual nos deparamos e que pretendemos resolver, limitando o seu campo e apresentando suas características (LAKATOS; MARCONI, 2007, p.129).
Essa distinção que o pesquisador deve ter frente ao assunto que pretende pesquisar é fator preponderante e, ao eleger seu problema de pesquisa, confere ao trabalho características que o diferencia e o torna “individualizado, específico, inconfundível" (LAKATOS; MARCONI, 2007, p.129). As autoras ainda afirmam que, ao pesquisador, precederá a liberdade em escolher o método e a teoria para que ele possa realizar sua pesquisa, entretanto, quando se colocar a redigir seus relatórios, são imperativos, tanto na coleta quanto na análise, elementos como coerência, consistência, objetividade, originalidade, confiabilidade e criatividade.
Os trabalhos científicos possuem, em geral “a mesma estrutura: introdução, desenvolvimento e conclusão” (LAKATOS; MARCONI, 1991, p. 236), estruturação esta que é aplicada a toda forma de pesquisa ou trabalho científico, e que talvez induza os mais ingênuos a pensarem que isso reduz o trabalho a mero formalismo estrutural, quando, na verdade, apesar de formalmente estruturado de modo comum, os conteúdos de que tratam é que determinam o modo operante de cada pesquisa, ou seja, nesse momento, é a sensibilidade do pesquisador que define o que cabe aplicar como metodologia.
Contudo, devidamente considerado o papel e importância da definição precisa do problema de pesquisa, será por meio da justificativa que o pesquisador conseguirá uma “exposição sucinta, porém completa, das razões de ordem teórica e dos motivos de ordem prática que tornam importante a realização do trabalho” (LAKATOS; MARCONI, 2008, p.221). O que atribui valor a uma pesquisa é, precisamente, justificar as relevâncias social e científica, ou seja, a contribuição que tal estudo trará à sociedade e à ciência.
Desta forma, escolher o assunto, delimitar o tema, estruturar o problema de pesquisa e justificar sua relevância no cenário acadêmico se revelam necessidades, mas configuram-se etapas iniciais do processo de produção do conhecimento de forma científica.
Esse projeto inicial, distinguindo “o que fazer”, exigirá agora um “como fazer” e, nessa fase, o pesquisador irá determinar a metodologia que será adotada. A metodologia, na concepção de Lakatos e Marconi, “responde, a um só tempo, às questões como?, com quê?, onde?, e quanto?” (LAKATOS; MARCONI, 2008, p.223). A orientação da pesquisa, regularmente realizada por docente designado, inicia então seu processo produtivo, fazendo uso das “ferramentas” indicadas e selecionadas em parceria – orientador e orientando.
Mesmo orientado, o pesquisador – graduando, precisa perceber-se e dar vazão à sua sensibilidade, ao longo de toda a produção acadêmica, pois, uma vez consideradas as etapas e exigências da pesquisa que viemos apresentando, sem percepção e sensibilidade o pesquisador não consegue selecionar, analisar, conjecturar e projetar nada acerca do universo pesquisado.
Nas universidades, mais do que aprender técnicas ou normas mecânicas, a pretensão é de que o graduando consiga mergulhar no universo da pesquisa, de modo que, por uma assimilação consistente, ele venha a compreender as diferentes etapas da pesquisa e, tomando consciência delas, as incorpore de modo autônomo e sistematizado em sua observação de mundo, observação que, na concepção de Lakatos e Marconi
é uma técnica de coleta de dados para conseguir informações e utiliza sentidos na obtenção de determinados aspectos da realidade. Não consiste em ver e ouvir, mas também em examinar fatos ou fenômenos que se deseja estudar (LAKATOS; MARCONI, 2008, p. 76)
Contudo, cabe diferenciar a metodologia da pesquisa, da pesquisa propriamente dita. A primeira refere-se aos instrumentos e à organização deles em função da segunda, que deve sempre ser tomada em sua totalidade, contemplando todos os elementos convergentes ao objetivo final, que é a confirmação ou refutação das hipóteses inicialmente levantadas pelo problema de pesquisa.
Recorrendo a Lakatos e Marconi, temos uma definição de metodologia qualitativa que, ao lado da pesquisa qualitativa, ou paralela a ela,
preocupa-se em analisar e interpretar aspectos mais profundos, descrevendo a complexidade do comportamento humano. Fornece análise mais detalhada sobre as investigações, hábitos, atitudes, tendências de comportamento, etc (LAKATOS; MARCONI, 2004, p. 269)
partindo dessa premissa, é justamente o levantamento bibliográfico que irá, de modo sistemático, selecionar os dados pertinentes que venham estabelecer as relações necessárias e relevantes ao universo pesquisado, auxiliando na elaboração de proposituras que atendam ao objeto pesquisado.
No âmbito comum da produção científica, “toda pesquisa implica o levantamento de dados de variadas fontes, quaisquer que sejam os métodos ou técnicas empregadas” (LAKATOS; MARCONI, 1992, p. 43). O pesquisador, sobretudo o acadêmico da graduação, se pretende desenvolver-se como pesquisador, e realizar pesquisas com qualidade e validade científica, precisa aprimorar-se na seleção criteriosa de materiais que subsidiem seu trabalho, fornecendo elementos que endossem suas constatações.
A pesquisa bibliográfica, segundo ensinam Lakatos e Marconi, é aquela que,
abrange toda bibliografia já tornada pública em relação ao tema de estudo, desde publicações avulsas, boletins, jornais, revistas, livros, pesquisas, monografias (LAKATOS; MARCONI, 2007, p.185).
ou ainda, aquela que
'oferece meios para definir, resolver, não somente problemas já conhecidos, como também explorar novas áreas onde os problemas não se cristalizaram suficientemente' (LAKATOS; MARCONI, 2007, p.185).
Obviamente, alcançar a totalidade de informações pertinentes a um determinado tema, seja ele qual for, sobretudo na era da informação, se torna algo complexo e, talvez, impossível. Contudo, com sistematização e sensibilidade, o pesquisador conseguirá selecionar os materiais que tragam a essência do problema pesquisado, sem perder-se nos “adereços” que comentadores trazem em suas obras.
Assim, da seleção do assunto ao levantamento bibliográfico, temos na metodologia uma ferramenta que auxilia o pesquisador a promover o seu pensar, elevando-o ao critério de cientificidade exigido pela comunidade acadêmica, proporcionando a discussão de novos problemas ou a revisão de problemas já discutidos, cuja releitura se faz necessária pela contribuição e agregação de valores.
Destacamos assim a importância que a metodologia possui na vida acadêmica do graduando, uma vez que, mesmo trabalhando a normatização mecânica, desenvolve no pesquisador, pelas exigências que traz consigo, a sistematização criteriosa de informações que devem, igualmente, ser avaliadas e ordenadas para que se façam aceitas e válidas ao universo acadêmico de produção do conhecimento. A pesquisa é, portanto, uma atividade que ocorre como questionamento sistemático que, pela sensibilidade do pesquisador, se faz crítico e criativo, e cuja intervenção na realidade pesquisada, estabelece um diálogo com a realidade, não só a realidade conceitual, mas, sobretudo, a realidade empírica.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Percebemos que a visão distorcida e depreciativa que a metodologia recebe por parte significativa dos graduandos das universidades brasileiras se deve, em parte, a uma distorção de sua real finalidade e, sobretudo, da correta e adequada aplicação de suas técnicas. Se, ao término de um curso de graduação, o acadêmico consegue compreender e valorizar a utilidade e a importância que a sistematização possui, isso denota que, na fase inicial (das aulas de metodologia), o que ocorre é um desvio de funcionalidade, talvez por metodologias de ensino que não consigam envolver o aluno em algo maior que a mera sistematização mecânica na aplicação das regras.
Conseguimos, mesmo que de modo incipiente, elucubrar a possibilidade do desenvolvimento da disciplina de metodologia e, consequentemente, a aplicabilidade e assimilação de seus critérios, por meio de oportunidades empíricas de realização de pesquisas e, posteriormente, a aplicação das técnicas e sistematização do pensamento em conformidade às diretrizes e normas científicas. Ou seja, talvez a metodologia, aplicada de modo operacional na coleta de dados e no despertar para a descoberta e produção de informação ou conhecimento novos e relevantes, se revele fator preponderante ao acadêmico que, frente às informações obtidas, se veja necessitado de recursos que validem tal “achado”.
Nossa hipótese é, que assim como ele (o acadêmico) se vê necessitado do método ao término do curso, que se ele começa coletando e produzindo, ele irá, no desenvolvimento da disciplina, se ver necessitado do método e da sua parte operacional e mecânica para organizar o que produziu.
Como se trata de reflexão temática, o artigo não encerra a problemática, ao contrário, visa corroborar com os militantes na seara do método e da pesquisa, oferecendo um novo prisma para o pensar e o desenvolver a metodologia junto aos acadêmicos da graduação em nosso país.
BIBLIOGRAFIA
LAKATOS, Eva Maria; MARCONI, Marina de Andrade. Fundamentos de Metodologia Científica. São Paulo: Atlas, 1991.
________. Fundamentos de Metodologia Científica. 4. ed. São Paulo: Atlas, 1992.
________. Fundamentos de Metodologia Científica. 5. ed. São Paulo: Atlas, 2003.
________. Metodologia Científica. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2004.
________. Fundamentos de Metodologia Científica. São Paulo: Atlas, 2007.
________. Fundamentos da Metodologia Científica. 6. ed. 6. reimpr. São Paulo: Atlas, 2008.
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