O circuito instantâneo da Emoção/Ação: um processo de integração do corpo com os afetos
- por Mário Costa
- 16 de mar. de 2015
- 4 min de leitura
Atualizado: 21 de set. de 2021
Remexendo aqui nos meus guardados me deparei com um material de estudo do período de voluntariado que vivenciei no início do ano de dois mil e quatorze e, seduzido por ele, não consegui deixar de repetir a leitura que, atualíssima, um ano depois produziu em mim frutos de reflexão e uma chamada de ATENÇÃO para aspectos essenciais para a qualidade e o equilíbrio da vida, por vezes perdido ou arrancado de nós na correria em que vivemos. Compartilho com você minha reflexão, e espero que valha a leitura.
O circuito instantâneo da Emoção/Ação
Um processo de integração do corpo com os afetos
Por vezes nos questionamos sobre alguns porquês: “Por que agimos assim quando gostaríamos de agir de outra maneira?”, ou até mesmo, “Por que tenho tal sentimento quando não gostaria de possuí-lo?”. Tais questionamentos, que acredito serem recorrentes em toda pessoa, muita das vezes tiram de nós a tranquilidade e o equilíbrio, talvez porque envolvam sentimentos e emoções.
Toda a realidade com a qual nos deparamos chega até nós por meio dos sentidos. Se a realidade é BOA, produz sentimentos de agrado e acolhida. Contudo, se a realidade é MÁ, produz feridas e um fechamento, pois nos desagrada e ameaça. Aquilo que é afetivo é EFETIVO, porém, nem todo afeto passa antes pelos nossos pensamentos e, quanto maior a velocidade da informação, menor a qualidade do processamento dela. Num mundo agitado, cada dia temos menos tempo para processar adequadamente nossos afetos, o que implica em perda significativa da qualidade de compreensão do que eles significam, originando uma sociedade fria e sem vínculos afetivos.
A maturidade emocional se dá quando percebemos os nossos sentimentos e os pensamentos que esses sentimentos produzem em nós. As nossas experiências estão diretamente relacionadas ao modo como percebemos os nossos sentimentos e como os processamos em nosso intelecto. Mas é preciso cuidar dessa percepção e compreensão, fugindo à “Lei do Pêndulo”, que nos joga cada hora para um lado, passando de um extremo a outro e, por vezes, nos sentindo mal por sermos tão inconstantes.
Para sermos pessoa de FATO, e não de título, é preciso que nos sintamos amados e, não só sintamos, mas compreendamos o que é ser amado! Por Deus, pelo outro e também por nós mesmos, e isso implica coerência entre o que pensamos, queremos e fazemos – exige esforço racional. A integração do corpo com nossos afetos é imprescindível a quem se pretende feliz, uma vez que não há vida e, tampouco felicidade, sem corpo, pois é nele e por meio dele que se dão as emoções e os afetos.
O circuito instantâneo da emoção se desenvolve diante dos FATOS que, automaticamente, produzem emoção e sentimento. A emoção é um fator orgânico, de ativação cerebral. Ocorre, por exemplo, quando levamos um susto ou nos emocionamos. Não precisamos nos esforçar para sofrer a reação, ela simplesmente acontece.
Mas os fatos também produzem sentimento, esse de valor afetivo, baseado em nossos valores pessoais. Um exemplo são nossos vínculos com familiares, amigos e até mesmo lugares. Essas pessoas e lugares passam a ocupar lugar especial em nossas vidas e nutrimos por eles sentimentos de apreço, chegando às vezes a afirmar: “como posso gostar tanto de fulano” ou “esse lugar tem um valor especial para mim”.
Assim, o que nos faz QUERER experienciar determinadas emoções e sentimentos é o DESEJO. Diferente do prazer, o desejo é a vontade determinada de querer ou precisar de algo ou alguém, enquanto o prazer é uma forma de desejo que, uma vez saciada, cessa até que surja uma nova vontade. O prazer pode causar alienação ou escravizar se não subjulgado à racionalidade que o dosa. Exemplos são a gula, a vaidade, o sexo e outras formas modernas de saciedade que podem se tornar compulsivas.

Um desejo que não aliena ou escraviza deve ser consciente, centrado e purificado pelos valores morais e éticos. Precisa atender ao projeto de vida pessoal, fundado naquilo que realmente importa ao ser que você é – não ao que te dizem que seja, ou o que querem que você seja.
Uma vez compreendido o desejo, resta ao homem a DECISÃO!
Como é difícil e complexo tomar decisões...
Mas a decisão é algo racional. É opção, implica consequências e ocorre na mente subsidiada por argumentos válidos – por vezes sólidos (variáveis de pessoa para pessoa), que nos motivam a realizar algo, ou seja, a AGIR.
A ação humana pode converter-se em vício ou virtude, pois nem sempre agimos da maneira adequada e com base naquilo que realmente queremos, mas decidimos, equivocadamente, movidos pela emoção (orgânica) e não pelo sentimento (valores). Muita das vezes as consequências são graves, e algumas, irreversíveis.
Vício e virtude, na concepção aristotélica, basicamente abordam a falta ou o excesso que, segundo o filósofo, devem ser evitados para o alcance do equilíbrio, ou seja, da virtude. Um sentimento ou uma conduta, sendo deficiente ou excessiva, torna-se um vício. Por exemplo, um corpo que se exercite em excesso ou que não realize nenhum exercício sofre algum tipo de debilidade. Segundo Aristóteles, o mesmo acontece com as virtudes. Uma pessoa é covarde quando teme a tudo e não faz nada – vício por deficiência. A pessoa que não teme nada e se expõe a toda espécie de perigos é temerária – vício por excesso. Virtuoso é aquele que equilibra emoções e sentimentos, e consegue agir racionalmente, ponderando e alcançando a virtude, a escolha consciente e em conformidade aos seus valores.

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