O copo está meio cheio ou meio vazio? Uma avaliação do pessimismo e do otimismo através dos estilos
- por Mário Costa
- 21 de abr. de 2015
- 7 min de leitura
Atualizado: 28 de jun. de 2021
Mais um comentário do livro “Longevidade Emocional”, Editora Best Seller de Norman B. Anderson e Elizabeth Anderson.

Não é incomum utilizarmos a frase clichê que intitula este artigo para determinarmos se uma pessoa é otimista ou pessimista, e tal avaliação considera que a nossa visão de mundo advém do modo como elaboramos as nossas expectativas sobre o nosso futuro e também a avaliação que fazemos acerca do nosso passado.
As pesquisas recentes sobre o novo conceito de saúde, abordando que nossas ações influenciam nosso bem-estar, apontam que os nossos atos podem afetar nossa longevidade. Essa afirmativa não é novidade, pois, há algum tempo, já é sabido de todos que nossas ações e comportamentos beneficiam ou prejudicam nossa saúde. A novidade está no fato de que, não só ações e comportamentos, mas também os pensamentos – nossa visão de mundo, pode ser determinante nesse processo.
Os nossos pensamentos acerca do nosso passado e futuro, bem como as crenças que possuímos sobre nós mesmos têm sido alvo de contínuos e aprofundados estudos que revelam que pensamentos e crenças estão intimamente vinculados à saúde humana, considerado seu aspecto integral: biológico; psicológico-comportamental; sócio-ambiental; financeiro; existencial-religiosa ou espiritual; emocional.
Assim como o corpo biológico possui anticorpos – mecanismos de defesa, para os cientistas que defendem esse novo conceito de saúde, as nossas expectativas, explicações e crenças sobre o mundo e sobre nós mesmos seriam os anticorpos da nossa mente, numa dimensão psicológica da saúde. Otimismo e pessimismo aparecem, portanto, como dimensões muito mais profundas e significativas do que sugerem os clichês.

Contudo, não é tão simples determinar se uma pessoa é otimista ou pessimista, mas estudos já revelam que tal determinação envolve dois processos essenciais: a expectativa e a explicação. As expectativas se referem a algo incerto, já que acerca do futuro não temos domínio, e a explicação que damos aos fatos revelam nosso modo de interpretar a realidade que nos cerca.
O ser humano possui um núcleo chamado Sistema de Crenças, que atua sobre nós mesmos e também sobre a realidade em que estamos inseridos. Por esse sistema, realizamos avaliações da realidade e formulamos nossas expectativas com base em princípios determinantes para a geração de saúde ou de doença.
Esse sistema particular funciona de modo diferente em pessoas otimistas e pessimistas. Pessoas otimistas têm expectativas positivas em relação ao futuro e interpretam o passado de modo positivo acreditando sempre poder superar as adversidades com sucesso. Contrariamente, os pessimistas não possuem expectativas positivas em relação ao futuro e não acreditam ser capazes de superação, conduzindo suas expectativas negativamente.
De modo simplificado, nossos pensamentos, expectativas, explicações e crenças funcionam como as “rédeas” funcionam para os cavalos: elas freiam e controlam os movimentos. O movimento de nossa mente – esse sistema complexo de crenças, pode ajudar ou atrapalhar nossas motivações e nosso modo de agir em relação ao futuro e também em relação ao passado.
Conhecer uma realidade de modo seguro e concreto oferece muito mais segurança que o desconhecido. O futuro possui características de imprevisibilidade e incontrolabilidade que nos conduzem a tensões geradoras de doenças. Para fugir a isso, nossas mentes projetam situações, criam expectativas que fazem com que o futuro pareça menos imprevisível e incontrolável, de modo que tenhamos a sensação – mesmo que falsa, de que estamos no controle. É o exemplo do que ocorre com o chamado efeito placebo – espera-se que a pílula funcione e ela funciona.
Geralmente os otimistas, detentores de estado de espírito positivo – felicidade, excitação e interesse, sofrem menos – emocional e biologicamente, enquanto os pessimistas ficam condenados à ansiedade e à angústia que o estado de espírito negativo produz.
É interessante, entretanto, perceber que as tendências otimistas ou pessimistas são reveladas justamente naqueles momentos em que nossas vidas passam por situações traumáticas ou pela ocorrência de fatos inesperados e dramáticos. É nos piores momentos que conseguimos perceber os benefícios de ser otimista e os malefícios que o pessimismo gera em nós. Enquanto o otimismo protege a saúde, o pessimismo aumenta nossa vulnerabilidade e a disfunção emocional e física.
A gravidez e a menopausa são dois momentos que exemplificariam bem a maneira diferenciada de reagir a tensões. As mudanças e adaptações que a gravidez e a menopausa exigem da mulher revelam que mulheres otimistas são mais resistentes ao desenvolvimento de sintomas como a depressão, enquanto as pessimistas, por desenvolver expectativas negativas e acharem que aquela fase não vai passar, perdem a vivacidade e adoecem.
O otimismo e o pessimismo disposicionais – vinculados à nossa disposição, além de influenciar nosso bem-estar emocional influenciam uma série de outros fatores ligados à nossa saúde como, por exemplo, prognóstico na recuperação de cirurgias do coração, nosso status imunológico, a pressão arterial, o índice de mortalidade em pacientes de câncer, entre outros.
Entretanto, afirmam os pesquisadores, otimismo e pessimismo não são lados de uma mesma moeda. Segundo eles uma pessoa pode carecer de otimismo mas não ser, necessariamente, pessimista, e vice-versa. Suas pesquisas revelam que trazemos em nossa personalidade o otimismo e o pessimismo como dimensões diferentes e separadas, operando de forma independente, o que conduz a uma afirmação de que se pode possuir um alto índice de otimismo e ter, ao mesmo tempo, um índice também elevado de pessimismo.
Muitos problemas relacionados a pessoas pessimistas são explicados pela “teoria da depressão”, ou “impotência aprendida”. Tal teoria aponta que, quando somos submetidos repetidas vezes a condições de tensão crônicas que nos fazem impotentes e com uma sensação de que todo esforço é inútil – mesmo não sendo verdade, corremos o risco de nos tornarmos passivos, tendendo a desistir de tudo aquilo que nos parece fora de controle. Essa tendência pode ser estendida posteriormente, mesmo que o ambiente volte a se equilibrar, gerando a “impotência aprendida”. Ou seja, situações de conflito mal organizadas em nosso modo de perceber e interpretar a realidade (pessimismo) podem fazer de nós pessoas passivas que desistem de tudo que nos parece fora do controle, sem ao menos tentar, pois impera em nós o pensamento “nada do que eu faça faz qualquer diferença”. As condições mudam, mas a passividade e a inércia permanecem.
Já há afirmações de que a depressão se deve, em grande parte, ao modo como vemos e avaliamos os fatos que fogem ao nosso controle, fruto da passividade e da desistência, ou seja, da sensação (por vezes falsa) de impotência.
Por outro lado, há um número significativo de pessoas que, submetidas repetidas vezes a situações adversas e com grande tensão, situações potencialmente arrasadoras, como a perda de um membro de seu corpo, dos movimentos ou de um dos sentidos, não ficam deprimidas permanentemente e tampouco desistem.
O otimismo é característico de uma resistência à impotência aprendida, avaliando toda adversidade como temporária, local e controlável, o que os leva (os otimistas) a terem melhores condições de superação ou convívio com a adversidade, pois veem a realidade sob o melhor ângulo possível. Esse modo de ver é chamado Estilo Explanatório – a maneira rotineira de explicar os fatos (bons ou ruins).
Nosso modo de explicar os fatos que nos acometem se dá com base em três dimensões:
Dimensão Pessoal
Dimensão de Permanência
Dimensão de Generalidade
Na dimensão pessoal, o que avaliamos é o grau de responsabilidade que assumimos frente a um fato. A falha foi pessoal ou se deveu às circunstâncias? Por exemplo, se batemos o carro e nosso estilo explanatório é pessimista, o grau de responsabilidade e culpa que traremos para nós será maior que o real.
Na dimensão de permanência o que é avaliado é o quanto tal fato irá durar. Quanto tempo esperamos que as circunstâncias ruins vão durar? No mesmo exemplo do carro, é a avaliação de quanto tempo esse prejuízo irá durar. O otimista, ao contrário do que fez o pessimista no exemplo anterior, não maquiará a realidade, mas enxergará possibilidades de minimizar o problema ou, pelo menos, saber que ele não será eterno, irá passar assim que a dívida for paga, e assim o supera.
Na dimensão de generalidade é avaliada a globalidade da situação, ou seja, o quê o fato afeta. Como o fato afetará outras áreas da sua vida? Como no exemplo inicial, quais outras implicações mais gerais a batida do carro trará? Fez vítimas, haverá processos, etc. Da mesma forma, otimista e pessimista tomam a generalidade como fator determinante no modo de resolver problemas e encontrar soluções.
As dimensões de nosso estilo explanatório são, portanto, a chave para compreender se nossas explicações pessoais geram ou não autoculpa. Quanto mais nosso pensamento reflete autoculpa, permanência ou generalidade, maior será nosso grau de depressão já que, se acreditamos que a “culpa é minha” e achamos que o fato é permanente e geral (como dizemos no popular, perda total), é óbvio que irá parecer incontrolável. Resultado disso é que a visão de incontrolabilidade levará a sentimentos de impotência que culminam em depressão e outras doenças.
Pessimistas explicam fatos ruins produzindo mais fatos negativos para o futuro, enquanto otimistas procuram diminuir essa generalidade. Diante de fatos ruins, o pessimista assume para si a culpa, mesmo que não seja dele, acredita também que o fato será permanente e que afetará toda sua vida. O otimista, ao contrário, acredita que a situação negativa é fruto das circunstâncias, portanto, momentâneas, e não alterarão mais nada em sua vida.
Interessante, porém, é pensar o posicionamento do pessimista e do otimista em relação aos fatos bons!
Para os fatos bons, os pessimistas acreditam que se deva a “pura sorte”, nunca mérito seu. Chegam a afirmar que essa “sorte” não vai durar muito, e não valorizam o bom momento de que desfrutam. Já os otimistas, tem a crença de que o bom momento se deve a mérito seu, fruto de seu esforço, que será duradouro e que afetará toda sua vida. Estranhamente, otimistas e pessimistas invertem as estratégias diante dos mesmos fatos.
Assim, o Estilo Explanatório está diretamente relacionado a uma série de fatores como depressão em adultos e crianças, doenças de diversas naturezas, longevidade, status imune, entre outros. O otimismo tem efeito positivo sobre o humor, o status biológico e o tempo de vida.
Muitos alegam ser realistas, mas o falso realismo pode ser sinal de um estilo explanatório equivocado e deficitário, ou mesmo de uma impotência aprendida, conduzindo a efeitos drásticos e sofríveis aquele que não se impõe a esse modo de ver o mundo.
Portanto, cuidado com o modo como você vê o copo!

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