Somos seres de passagem
- por Mário Costa
- 29 de abr. de 2015
- 3 min de leitura
Atualizado: 28 de jun. de 2021

A leitura do pensamento do filósofo do século XVI, Michel de Montaigne (1533-1592), “o filósofo que dialogava com a humanidade”, desperta reflexões absolutamente atuais, mais de quatrocentos anos após sua morte, sobretudo suas discussões sobre a racionalidade humana e também outros temas de natureza universal.
Vencendo as barreiras do tempo, o filósofo francês nos concede por meio de sua obra, a possibilidade de revisarmos nossa percepção, análise e compreensão acerca da alma e da natureza humanas, consideradas em seu aspecto integral. Montaigne percebe que aqueles que não são guiados pela razão costumam ser inconstantes em suas ações, vivendo ao sabor das paixões e agindo conforme as circunstâncias.

Sua visão futurista demonstrava uma crença de que o homem não possuía uma essência distinta dos outros seres, tampouco fosse ele o ápice da criação. Ao contrário, como parte integrante da natureza, deveria compreender que mesmo animais, plantas e demais seres vivos merecem respeito e consideração, discurso amplamente discutido na atualidade, sobretudo considerados os eventos e a degradação ambiental que temos sofrido.
Crítico da razão e da ciência, o filósofo as coloca em xeque (à razão e à ciência) com o célebre questionamento: “Porque a racionalidade não fez do homem um ser mais sensato e equilibrado?”.
Essa crítica severa aos valores humanos e à razão como instrumento para alcançar a verdade e o bem – grandes aspirações humanas, fazem com que Montaigne não se enquadre em nenhuma escola filosófica ou dogmatismo, permitindo-lhe reunir, em suas crises céticas, elementos diversos em seu pensamento. Dar às coisas seu justo valor é marca da filosofia montaigniana, livre da mesmice e da mesquinhez cotidianas, sabendo o momento exato de dedicar-se a si mesmo, afastando-se dos homens quando necessário para ver o mundo do “alto de sua torre”.
Considerando o pensamento de que “poucos homens são verdadeiramente guiados pela razão”, a única maneira de não se deixar levar “ao sabor dos ventos” ou ao “acaso dos encontros” é sendo o melhor de si mesmo, reconhecendo a mudança constante, o eterno devir, tomando como grandes valores da vida o prazer e a alegria, com o cuidado de não considerar prazer e alegria o fantástico e o fantasioso, afastando-se das glórias vãs e passageiras e atentando-se ao que realmente vale a pena.

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