top of page

Somos seres de passagem

Atualizado: 28 de jun. de 2021


Montaigne.png

A leitura do pensamento do filósofo do século XVI, Michel de Montaigne (1533-1592), “o filósofo que dialogava com a humanidade”, desperta reflexões absolutamente atuais, mais de quatrocentos anos após sua morte, sobretudo suas discussões sobre a racionalidade humana e também outros temas de natureza universal.

Vencendo as barreiras do tempo, o filósofo francês nos concede por meio de sua obra, a possibilidade de revisarmos nossa percepção, análise e compreensão acerca da alma e da natureza humanas, consideradas em seu aspecto integral. Montaigne percebe que aqueles que não são guiados pela razão costumam ser inconstantes em suas ações, vivendo ao sabor das paixões e agindo conforme as circunstâncias.


frase3.png

Sua visão futurista demonstrava uma crença de que o homem não possuía uma essência distinta dos outros seres, tampouco fosse ele o ápice da criação. Ao contrário, como parte integrante da natureza, deveria compreender que mesmo animais, plantas e demais seres vivos merecem respeito e consideração, discurso amplamente discutido na atualidade, sobretudo considerados os eventos e a degradação ambiental que temos sofrido.

Crítico da razão e da ciência, o filósofo as coloca em xeque (à razão e à ciência) com o célebre questionamento: “Porque a racionalidade não fez do homem um ser mais sensato e equilibrado?”.

Essa crítica severa aos valores humanos e à razão como instrumento para alcançar a verdade e o bem – grandes aspirações humanas, fazem com que Montaigne não se enquadre em nenhuma escola filosófica ou dogmatismo, permitindo-lhe reunir, em suas crises céticas, elementos diversos em seu pensamento. Dar às coisas seu justo valor é marca da filosofia montaigniana, livre da mesmice e da mesquinhez cotidianas, sabendo o momento exato de dedicar-se a si mesmo, afastando-se dos homens quando necessário para ver o mundo do “alto de sua torre”.

Considerando o pensamento de que “poucos homens são verdadeiramente guiados pela razão”, a única maneira de não se deixar levar “ao sabor dos ventos” ou ao “acaso dos encontros” é sendo o melhor de si mesmo, reconhecendo a mudança constante, o eterno devir, tomando como grandes valores da vida o prazer e a alegria, com o cuidado de não considerar prazer e alegria o fantástico e o fantasioso, afastando-se das glórias vãs e passageiras e atentando-se ao que realmente vale a pena.


frase1.png

Para Montaigne a Educação é um fator determinante na construção desse “melhor de si mesmo”, que nada mais é que a formação do juízo (capacidade racional), cuja finalidade é a fortificação da natureza humana. Se não há homens verdadeiramente guiados pela razão isso talvez se deva a um processo educacional débil, que não promove, mas limita e complica nossa existência. O filósofo vai além e diz que “é mais importante ter a cabeça bem feita do que bem cheia”, afirmativa que causa certo desconforto considerada a importância que o conhecimento ocupa na vida humana. Cabeça bem cheia de ideias não tem valor algum se as ideias não estão colocadas em função de algo maior do que um indivíduo isolado em si e em suas necessidades egoístas.

Somos seres de passagem, escreve Montaigne. E é justamente o modo como se dá essa passagem o foco de suas elucubrações, o humana enquanto ser finito, essa concepção de ser que, mesmo que tente ser absorvida pela intelectualidade humana, sempre deixará algo não captado a ser descoberto, infinitamente. É a maravilha do conhecimento como devir, eterna mudança que se apresenta ao homem na medida em que reconhece sua fragilidade e aceita a máxima socrática do “só sei que nada sei”.

A rejeição ao fanatismo e à estupidez de quem se pretende grande e douto marca uma filosofia que preconiza a paz e a tolerância entre os homens, mesmo que ele próprio (o filósofo) não acredite na possibilidade de efetivação dessa premissa de paz e tolerância pela humanidade.

Em Montaigne recebemos ensinamento de valor ímpar, repensando nossos apegos e vaidades, abdicando de nossas pretensões em relação à verdade, sobretudo àquelas absolutizadas pela razão capitalista e pela ciência mercantilista. E se ainda assim nos questionarmos acerca do por que a racionalidade não nos fez mais sensatos e equilibrados, talvez a premissa conclusiva seja a de que ainda são poucos os homens que se deixaram guiar por ela e, sendo poucos, há de se formar mais destes, homens verdadeiramente guiados pela razão autônoma e promotora da paz e da tolerância, razão guiada pela virtude, homens que com seu comportamento mudariam o mundo. Trata-se de “afirmar pelo pensamento a vida, e pela vida justificar o pensamento”.

Contudo, “Os homens se acreditam superiores e racionais, mas quase sempre se mostram escravos das superstições e repletos de vícios. Poucos homens são verdadeiramente guiados pela razão, pela justiça”.



 
 
 

Comentários


Meus Contatos

  • Lattes
  • Instagram
  • Facebook Basic Square
  • LinkedIn App Ícone
profMárioCosta

Obrigado pela visita!

Espero que a leitura tenha sido proveitosa e agradável. Volte sempre!

bottom of page