INTER-AÇÃO: RELAÇÕES COM OU SEM QUALIDADE?
- por Mário Costa
- 24 de ago. de 2015
- 3 min de leitura
Atualizado: 28 de jun. de 2021

Quando falamos em interação geralmente nos reportamos a relações, a contatos de diferentes naturezas travados entre pessoas e coisas, sobretudo nesse tempo de tecnologias variadas, em sua maioria interações virtuais. Se buscarmos a definição do vocábulo no Aurélio veremos que o significado remete a “ação que se exerce mutuamente entre duas ou mais coisas, ou duas ou mais pessoas; ação recíproca”, portanto, mesmo as interações virtuais estão inseridas no contexto discutido.
Numa interação comunicativa dois ou mais interlocutores se relacionam por meio da linguagem (escrita ou falada) com o objetivo de se comunicarem uns com os outros. Portanto, não basta falar, é preciso falar com alguém, pois comunicação é interação. O que questiono, entretanto, é a efetividade das interações que temos desenvolvido com as pessoas, com as coisas, com os espaços que habitamos.
Nem sempre essas interações comunicativas são efetivas, e digo isso no sentido de que nem sempre estamos inseridos de modo pleno nesse processo de comunicação que pressupõe alguém que fala e alguém que escuta, e este último papel nem sempre é bem executado (o de ouvinte).
Interação é comunicação, e comunicar, sendo um ato intencional de alguém que sabe o que quer, pressupõe ordem no discurso (começo, meio e fim – lógica discursiva), controle do que diz e dos efeitos que sua mensagem produz (ou deveria produzir) no outro. Não temos pensado no que falamos, tampouco, temos cumprido o papel de ouvintes quando nos colocamos a escutar o outro, já que ouvir não é calar-se, mas estar aberto à ideia que o outro nos transmite e pensar (refletir) sobre ela.
Quantos discursos desordenados têm causado polêmica no cenário político atual, mas não só nesse, em tantos outros cenários onde somos atores, mesmo que coadjuvantes. Preocupa-me mais os discursos que nós mesmos proferimos nos cenários onde somos protagonistas. Há coerência, sentido, intenção clara naquilo que dizemos? Conseguimos nos fazer entender? Predispomos-nos a ouvir o outro e, em caso de incompreensão, estamos abertos ao diálogo reflexivo sobre o falar e o compreender para que haja, no mínimo, um consenso e uma justaposição acerca do discutido?
São muitos os questionamentos, mas acredito que o mais importante seja sobre o ouvir. A capacidade de escutar tem sido deixada de lado, ou porque não queremos ouvir o que nos falam, ou porque estejamos tão centrados em nós mesmos (egocentrismo e individualismo) que o posicionamento do outro pouco importa. Essas ilhas comunicativas lançam discursos vazios de sentido, uma vez que, se a interação comunicativa pressupõe o falante e o ouvinte, a ausência desse último implica a não efetivação de uma interação comunicativa integral.
A correção dos equívocos entre o que se fala e o que se entende só é possível quando há interação efetiva entre os indivíduos, quando se está pré-disposto a quebrar as resistências de nossas crenças nucleares e refletir acerca do que o discurso alheio nos traz, mesmo que seja tolo e absurdo (para nós). Ainda há de se considerar aquelas razões inconscientes ou subconscientes para as quais não conseguimos atinar, porque nem tudo o que pensamos e, consequentemente falamos, é racional e passível de explicação.
A presença de resistências é inevitável. Mas a tolerância e o respeito são indispensáveis!
A compreensão do outro, do mundo do outro e de seu discurso, passa, inevitavelmente, por sua história de vida, por suas experiências, frustrações, recalques, enfim, por sua singularidade. Não inter-agir com tais pormenores presentes no diálogo (implícita ou explicitamente) é incorrer em desrespeito e ignorância intelectual, condenando a vida social ao fracasso humano, uma vez que “o homem é um animal social”, como escreve Aristóteles. Interajamos mais, mas com maior eficácia e eficiência.

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