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IN-DEPENDÊNCIA OU MORTE?

Atualizado: 28 de jun. de 2021


Na semana em que comemoramos a independência do nosso país, me inquietou a falta de sentido de tal solenidade, considerando o seu real significado, já que há muitas festividades nessa nação onde a reflexão não é um hábito tão comum. Passei a avaliar, sem muita profundidade inclusive, a palavra independência e, o que primeiro me chamou atenção foi, justamente, o seu prefixo.

O prefixo “in” designa, grosso modo, a privação e, quase sempre, quando colocado antes de uma palavra, subtrai dela sua essência, chegando, algumas vezes, a refletir integralmente seu antônimo. Assim ocorre em intolerante – aquele que não tolera, inconsequente – aquele que não mede consequência, insensível – aquele que não possui sensibilidade, e ainda tantos outros “ins” que poderiam ser aqui listados.

Se aplicado a palavras que se referem a situações não tão boas, a privação seria até bem-vinda, como no caso da palavra independência que, pelo prefixo “in”, reflete a ausência de dependência, ou seja, reflete a autonomia por parte de uma pessoa, organização ou nação. A independência (ausência de dependência) confere àquele que a possui a autonomia de pensamento, de julgamento e de ação, tornando o sujeito livre de qualquer forma de coação ou manipulação, sejam elas exteriores ou provenientes dele mesmo, no caso daquelas desordens de natureza psicológica que tiram a capacidade de realizar escolhas de modo livre, sem ceder a pressões de ordem externa ou interna.

Tem sido raro encontrar pessoas, organizações e nações plenamente independentes, já que independência parcial não é independência. Ser independente parcialmente é como estar meio certo, como estar meio seguro ou qualquer outra metade que não é o todo e, por isso, não satisfaz.

A dependência, por sua vez, é um termo muito conhecido e assimilado por parcela significativa da população na atualidade, sobretudo se tomada sob a ótica da dependência química, essa chaga que assola a humanidade há algumas décadas. Mesmo jovem, a dependência é mais compreendida que a declarada independência que nos apresentaram dois séculos antes. Dois séculos para assimilar, compreender e vivenciar a independência, mas o prolongado tempo parece não ter sido suficiente para que a incorporássemos em nossas práticas cotidianas.

Ser dependente tem se mostrado mais fácil que “independer-se”. A dependência se tornou uma “muleta”, uma desculpa para fundamentar nossa incapacidade de sermos aquilo para que fomos feitos pela nossa capacidade racional: seres autônomos – independentes!

A autonomia, essa capacidade de pensar, julgar e agir diante das regras às quais somos submetidos todos os dias, é uma característica inerente ao ser humano independente. Resta-nos pensar, já que o objetivo pretendido com esse texto é esse, qual foi o momento em que deixamos de ser independentes e delegamos a outros a autoridade sobre nós mesmos, sobre nosso modo de ser, pensar e agir.

Em contrapartida, outros “ins” foram enxertados em nosso meio, fazendo-nos in-tolerantes, in-constantes, in-sensíveis e, por vezes, in-consequentes. Coloco-me a pensar nossas privações, tudo aquilo a que fomos privados mas, sobretudo, aquelas privações que nós mesmos nos causamos, aquilo a que nos privamos por escolha, coação ou manipulação de diferentes naturezas. Tal questionamento torna-se uma busca por aquilo que, de fato, deveria ser subtraído e aquilo que deveria ser agregado.

A falta de sentido em comemorar independência sem tê-la é uma incoerência moderna e, não havendo independência para o ser humano, o que passa a haver, mesmo que gradativamente, é a morte.


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profMárioCosta

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Espero que a leitura tenha sido proveitosa e agradável. Volte sempre!

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