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O desejo fundante

Atualizado: 28 de jun. de 2021

Atualmente os desejos têm sido compreendidos de formas diversas. Com conotação sexual, pelo viés capitalista do consumo, como ganância pelo ter bens e riquezas e algumas tantas outras maneiras de entendimento. Acredito, entretanto, que sua principal e talvez original estrutura não esteja sendo considerada: o princípio motor da ação humana.

Toda ação é motivada pelo desejo. É o desejo de chegar à porta que move as pernas a caminhar, o desejo de escrever uma carta é que estimula a mão a segurar o lápis, o desejo de sentir o sabor da comida e saciar o apetite é que motiva o cozinhar ou o comer e, nessa mesma linha, tantos outros exemplos poderiam ser aqui listados.

Um ser humano sem desejo está condenado à morte, já que a vida exige ação. Não me refiro a uma ação meramente física, mas a uma ação em busca daquilo que é desejado. Assim como escrevo esse texto e o que me motiva é o desejo de explanar minhas ideias, da mesma forma, outros desejos há como esse, não físicos, mas de natureza metafísica – que vão além da matéria, mas com igual origem no desejo.

Contudo, há um desejo chamado desejo fundante. Diferente de qualquer desejo de natureza mais simples, como o comer, o banhar-se, o caminhar e tantos outros, o desejo fundante é uma motivação fundamental que nos impele à busca pela felicidade, por aquilo que nos completa e nos realiza enquanto pessoa. No seio de nossa mãe, em nosso primeiro mamá ou mamadeira, teve início nosso processo de busca por aquilo que nos completa, que nos faz feliz.

É evidente que, naquele primeiro momento, ainda imaturos em nossa intelectualidade e visão de mundo, nossa felicidade se dava tendo nossas necessidades primárias preenchidas: alimento, conforto e afeto. Na medida em que fomos crescendo e ampliando nossa cosmovisão, esses desejos foram se tornando um tanto mais elaborados e, consequentemente, nossas ações passaram a ser mais complexas.

Ao longo de nossas vidas, o ser indefeso, dependente e frágil vai ganhando autonomia, mas, infelizmente, parece ir perdendo a noção daquele desejo fundante, daquilo que verdadeiramente o completa, ou seja, as suas necessidades mais básicas: alimento, conforto e afeto. Adulto, agora ele precisa sanar necessidades mais complexas, mais elaboradas. Não atendê-las é condenar-se à infelicidade.

Compreender onde foi que nos perdemos entre aquele desejo fundante inicial que nos movia a buscas simples, mas que nos preenchiam, é necessidade primaz ao ser humano que pretende encontrar-se consigo e com sua felicidade. O que de fato me completa? O que de fato me motiva? Essa busca pelo que nos completa começa no desejo e, desejosos de realidades, coisas e pessoas estereotipadas por uma sociedade narcisista, materialista, hedonista e egocêntrica, o desejo fundante fica cada vez mais distante de nós.

Os desejos fundamentais, se não percebidos adequadamente, podem ser convertidos em desejos afundantes, isto é, desejos privados de uma fundação, privados de solidez e, por isso, nos afundam ao invés de nos elevar e nos conduzir à tão almejada felicidade, busca de todo ser humano saudável.

O reencontro com nossas estruturas basilares é hoje, sobremaneira, um imperativo, já que corremos todos os dias, o risco de mergulharmos ou sermos submergidos em águas turvas que sufocam e matam, águas do preconceito, da intolerância, da dificuldade de viver com o outro e para o outro e, ao que me parece, para essas águas não haverá crise hídrica. Ao contrário, as nascentes dessas águas barrentas e contaminadas parecem surgir vertiginosamente, formando rios caudalosos que atraem por sua beleza e pela força de suas águas, mas arrastam para destinos desoladores aqueles que dele se aproximam, desaguando num mar de esquecimento e vazio.

Recuperar nosso desejo fundante, aquilo que nos motiva a ações em prol de nossa felicidade é uma necessidade, não é um capricho. Alimento, conforto e afeto, mas dessas três, o afeto é fundamental, pois é por meio dele que se consegue perceber aquilo que de fato vale a pena nesse caminho que se chama VIDA.

Ayn Rand foi uma escritora, dramaturga, roteirista e filósofa norte-americana de origem judaico-russa, mais conhecida por desenvolver um sistema filosófico chamado de Objetivismo.


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profMárioCosta

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