Nessa sociedade capitalista em que vivemos o poder do capital, ou seja, do dinheiro que possuímos e, sobretudo do volume que movimentamos, tem feito de nós pessoas desenfreadamente consumistas e, o que é mais gritante, consumistas de produtos baratos sem nenhuma procedência, descartáveis e irrelevantes.
Pior ainda que consumir de modo desenfreado, sem preocupar-se com suas finanças, é deparar-se com vendedores de produtos que, por se possuírem natureza duvidosa, precisam ser barateados ao nível de sua qualidade – quase zero. O mercado livre permite a comercialização de qualquer produto, desde que, devidamente registrados, cumpram as normas técnicas e recolham os impostos para ele definidos. Contudo, produtos que firam essa normatização são caracterizados como ilegais e, se vendidos, são considerados contravenção, contrabando.
Pois bem, até aqui falei de coisas, mas o que de fato me preocupa são as pessoas. Tenho refletido e compartilhado minhas reflexões com aqueles que me honram com sua leitura e, de fato, é a humanidade que me chama atenção sempre, sobretudo quando entra em um processo de “coisificação” – tornar-se coisa e deixar de ser pessoa. Como bom personalista, pensar a pessoa como mercadoria é algo agressivo demais para mim, e perceber que ainda há quem se submeta a tal processo me indigna ainda mais!
Fico a pensar a missão do vendedor, que é quase de sedução do consumidor para que leve o produto exposto de modo que, pela venda, lucre sua comissão e mantenha-se na sociedade capitalista onde se vale o quanto se produz. Produzir menos é valer menos e, no universo da venda, o que importa é vender. O vendedor, se não atentar-se, pode incorrer em violação de todos os princípios morais e éticos e, agindo dessa maneira, trata o outro como um objeto para satisfação de sua necessidade pessoal – o lucro.
Ao lado do vendedor, e porque não dizer, abaixo dele, encontram-se os vendidos. Esses, por serem tomados como mercadoria, são expostos de modo atrativo, com os artifícios do discurso do vendedor, até que alguém surja com o desejo de comprá-lo. Ser vendido, como ocorreu com pessoas em muitos momentos da história, é a degradação máxima da dignidade humana, já que não somos e nem podemos ser tratados como objeto.
Nesse momento da reflexão cabe pensar ainda sobre a sensação de ser vendido em uma situação, quando alguém – o vendedor, nos apresenta para venda do modo como lhe convém, com as características nem sempre reais, com o único intuito de nos vender, e pior, num preço tão ínfimo que sequer valoriza nosso “passe”.
É revoltante perceber-me em meio a essa dinâmica comercial, onde interesses particulares se sobrepõem aos interesses coletivos, contrariando não só a Constituição Federal, mas qualquer normativa humana, universalmente válida por preservar a essência humana do direito à integridade moral a que todo cidadão tem direito.
Ao vendedor interessa simplesmente vender e, se tomarmos consciência disso, poderemos nos rebelar de modo sadio contra esse sistema que nos foi (im)posto de maneira sórdida e agressiva, tornando-nos coisas ao invés de pessoas, lançando-nos em prateleiras promocionais que nos diminuem a cada minuto e os tornam (os vendedores) detentores de um poder ilegítimo, já que está sendo conquistado de modo antiético e imoral.
E que se compreenda a metáfora desse texto, que não faz referência aos vendedores das lojas, profissão honrada e digna como qualquer outra. Faço menção sim, àqueles sujeitos que se prestam diariamente a enganar e iludir pessoas com ideias, projetos e fofocas que distorcem a realidade para dela tirar proveito, vendendo ilusões e mentiras como se fosse verdade.
Cuidado com o vendedor. Não compre ilusões, não consuma porcarias, não aceite ideias vazias, mesmo que estejam na moda. Um consumidor desenfreado pode passar, num piscar de olhos, de consumidor a consumido, e de vendedor a vendido. Que possamos reconsiderar nossas dinâmicas sociais como pessoas reflexivas, críticas e capazes de fazer com que o sistema exista em função de nós, e não o contrário, nós em favor dele.
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