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A Linguagem da Massa e o Preconceito Linguístico

Atualizado: 28 de jun. de 2021


Segundo a Wikipedia (enciclopédia colaborativa), o preconceito linguístico é “o julgamento depreciativo contra determinadas variedades linguísticas”. Marta Scherre – doutora em Linguística pela UFRJ, o define como "julgamento depreciativo, desrespeitoso, jocoso e, consequentemente, humilhante da fala do outro ou da própria fala".

Essa forma de preconceito – como acredito ser com a maioria dos preconceitos cometidos pela humanidade, geralmente atinge aquelas variedades linguísticas associadas a grupos de menor prestígio social. A “imposição” de uma linguagem culta, formal e gramaticalmente correta não deve ser desprezada, entretanto, há de se pensar (sobretudo num país com a dimensão que possui o Brasil) os porquês de tamanho distanciamento entre o formal e o informal presentes em nosso cotidiano.

Recentes e aprofundados estudos realizados por sociolinguistas, pedagogos e estudantes de Letras têm proporcionado discussões – com as mais variadas conduções, e em cenários sociais tão variados quanto o posicionamento dos estudiosos. Contudo, de maneira objetiva, esses mesmos cenários, onde se dão tais discussões, sequer conseguiram assimilar as realidades básicas de sua própria cultura, sobretudo num país continental como o nosso, em que o multiculturalismo é uma realidade incontestável.

Ou seja, como querer impor ou penalizar uma população pelo modo como se comunica, exigindo formalismo e regra a um povo cuja cultura e histórico social são tão variados e multifacetados?

Partindo desse viés, é nítido que é pela cultura e na cultura que se dão os códigos de linguagem que uma sociedade adota como meio de comunicar-se entre si e com o mundo. Portanto, como discutir preconceito linguístico em uma sociedade onde a própria identidade cultural não se encontra enraizada, ou mesmo conhecida pela massa que o integra?

Não quero aqui partir do princípio de que não se possa discutir algo desconhecido, até porque o princípio científico tem sua raiz no desconhecido que, por especulação dirigida, torna-se conhecido, explorado e, após esse processo, divulgado. O que questiono aqui é, senão, um certo “populismo informacional” que traz à tona discussões que invadem o cotidiano da massa, dominando-a e subjugando-a a cumprir ou fazer cumprir uma regra dita adequada ou, como convencionou-se chamar, o “politicamente correto”.

Desde Aristóteles a sociedade ocidental tem como princípio que, mais que qualquer outro animal gregário, é o homem um ser social, não porque viva em “bando”, mas por possuir o logos, a razão. Destarte, fazer uso desse princípio que nos define e distingue dos demais seres que povoam esse nosso universo seria, senão princípio básico, uma necessidade a qualquer discussão que se debute.

Não menosprezo aqui o conhecimento mais aprofundado da língua ou linguagem, mas creio que a sociedade precise valorizar, sim, a comunicação, em cada uma de suas vertentes. Jamais se deveria rejeitar alguma forma de comunicação, sobretudo advinda daqueles que, privados de oportunidades e acesso aos meios convencionais, formais e oficiais, serão a cada dia mais subjulgados à sua “mazela” intelectual, não por não querer, mas pelo fato de não ter podido dela desfrutar em seu caminho sociocultural.

Preconceito seria, a meu ver, a pré-concepção de algo ainda não assimilado pela massa, que é conduzida a fazer e, por vezes SER, algo que não compreende, que não quer, que não deve ser. A tentativa de calar aquele que se encontra à margem, porque não consegue inserir-se em meio aos códigos das elites intelectualizadas pela informação cega e imoral, desumana e desleal, que mata ao invés de trazer vida, isso sim é preconceito exclusivista!

Parafraseando o grande mestre Sócrates, valeria muito se tomássemos consciência de nossa ignorância, e deixássemos de criar e impor regras insensatas. Vivamos a máxima socrática da virtude: “só sei que nada sei!”.


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profMárioCosta

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