Esses últimos tempos têm sido cruciais para mim. Tenho escrito pouco, mas pensado muito. Pensado tanto que chego a sentir medo de onde meus pensamentos podem me levar.
Entretanto, percebo que um amadurecimento vai se fazendo aos poucos, mas não sem o preço de certa dose de sofrimento, medo, angústias e ansiedade pelo incerto que se faz presente a todo momento, sobretudo em dias em que o pensamento prega peças e me mergulha em memórias quase incontroláveis.
O que percebo é que nada em nossa vida é fácil!
Assim como a borboleta (amadurecida da lagarta que foi) precisa esforçar-se para romper o casulo com suas asas ainda frágeis, nós humanos também precisamos nos esforçar para romper nossos “casulos” psicológicos, essas frágeis membranas que nos aprisionam dentro de nós mesmos.
Se alguém rompesse o casulo da recém formada borboleta na pretensão de ajudá-la a sair mais fácil, certamente ela não voaria. É a força feita para a ruptura do casulo que lhe dá condições para o voo.
Da mesma forma, quando nós, humanos, deixamos de praticar esses esforços cotidianos e tão necessários, acabamos não tendo forças para alçar voo na vida. O esforço do simples acordar e enfrentar o dia, os pequenos estresses, as perdas, os medos, as pessoas, os sentimentos... quanta coisa não é como queríamos e certamente nunca serão!
Daí o perigo dessas facilidades modernas que nos seduzem na promessa de facilitar o que não está nos agradando. Essas novas famílias e suas novas organizações danosas. Esses relacionamentos descompromissados com os dissabores que eventualmente se fazem presente. Essas escolas que limitam-se ao ensino de conteúdos esquecendo-se de preparar para a vida.
Quanta coisa fácil tem aparecido e, nesse cenário, muitas drogas – lícitas ou ilícitas, têm trazido (de modo artificial) a calma, a boa forma, o êxtase... e tantas outras sensações perdidas pela falta de esforço. Não estou aqui, de modo algum, diminuindo aquelas patologias da alma, onde, por vezes, se faz necessário o uso de medicações. Mas hoje se sabe o quanto elas se vinculam às nossas “facilidades”.
Não consigo alcançar muitas coisas com a cartesianidade do meu pensamento, mas tenho percebido que nem tudo pode ser metodicamente organizado com as facilidades das receitas prontas dessas soluções modernas. Há coisas que precisam ser sentidas, tocadas, experienciadas sem muita reserva ou controle.
Aquele sufoco de dentro do casulo é que motiva que se faça força para romper aquela casca fina e frágil que parece tão grossa e resistente quando se está lá dentro. A consciência de suas asas faz a borboleta não se permitir aprisionar no casulo. Ela quer voar! O desejo de liberdade é sua grande motivação. O desenrolar das asas vai se dando na medida em que o casulo se rasga, e isso acontece de modo gradativo.
Tenho adquirido consciência de que possuo asas, mas ainda não me é claro o potencial de meus voos. Trago no peito uma certeza: nenhum esforço é demais quando se pretende ser feliz. A felicidade de quem tem asas é voar, para olhar o mundo de cima e poder pousar onde há o doce néctar das flores. Procurar jardins. Embelezar o mundo.
Como todos os textos que tenho escrito – e esse não é diferente, não tenho pretensão de que este seja tomado como verdade absoluta, pois não é. A pretensão é que provoque reflexão, um pensar a vida com base na vida. A vida real, aquela que dói, mas alegra. Que traz problemas, mas que têm soluções. Que inquieta e logo aquieta. A vida... simples e complexa, esse paradoxo muitas vezes incompreendido.
Comentários