BBB
- por Mário Costa
- 15 de abr. de 2018
- 3 min de leitura
Atualizado: 28 de jun. de 2021

Nesses meses em que o programa global “Big Brother Brasil” está no ar – essa é a décima oitava edição, de modo direto ou indireto, temos participado das discussões e avaliações que os telespectadores fazem acerca do comportamento dos “brothers” confinados na “casa mais vigiada do Brasil”.
Há quem ame o programa e o defenda com “unhas e dentes” e, outros há, que o abominam com as forças mais profundas de suas entranhas. Contudo, nesses sentimentos opostos, há uma emissão de valor acerca do conteúdo ali veiculado em rede nacional.
Posicionamentos como “é um programa de conteúdo vazio” ou, “trata-se de momento de bestialidade em horário nobre”, ou ainda, “é uma janela para o emburrecimento nacional” limitam a possibilidade de se pensar, de modo fundamentado e sistematizado, o comportamento humano quando submetido a privações ou, como convencionou-se chamar, em situação de “confinamento”.
Quantos “confinamentos” sofremos ao longo da vida?
Por quantas “provas de resistência” passamos a cada dia?
Como é estar no “paredão”? Como é sentir-se rejeitado?
Quantas vezes ocupamos o papel de “líder”? Fomos mais “monstro” ou “anjo”?
Como é ser “eliminado” após o julgamento nada acadêmico de uma população?
De maneira metafórica, a “vida” é ali minimizada – não no sentido de valoração, mas de dimensionamento, de modo que, com um olhar um pouco mais reflexivo, se maximizarmos o cenário, seria possível compreender a dinâmica complexa do que chamamos “vida em sociedade”.
As empatias e antipatias aparecem de modo explícito e os sentimentos, do mais simples ao mais complexo, ganham proporções monstruosas. É tudo muito intenso que se perde a noção de estar sendo vigiado por um incontável número de câmeras ocultas.
Não defendo ou ataco. Tampouco me privo de assistir alguns episódios. E, apesar de tentar não me permitir, não estou alheio aos sentimentos de afinidade por este ou aquele participante quando me coloco a observá-los e aos seus comportamentos.
Sem querer me fazer verdade – já que ela é bastante relativa nesse mundo de razões absolutizadas[i], quando o motivo particular se sobrepõe a um conjunto de elementos que desconhecemos – que alguns chamam “a minha verdade”, é que se ampliam os problemas e conflitos. É essa sobreposição do meu em relação ao seu, ou ainda, do não estabelecimento do nosso, que se maximizam as “guerras” entre os guetos ali formados (por afinidade ou estratégia).
Ao colocar-se como “senhor da verdade”, o indivíduo se põe a negar a “verdade do outro”. Ou seja, perde-se a tolerância[ii] ao direito do outro de ser, pensar e agir em conformidade àquelas crenças mais profundas e, por vezes, silenciosas, que todo indivíduo traz em seu interior – fruto de sua cultura, educação e oportunidades e, sem mesmo que ele perceba, direcionam e iluminam seu caminhar.
Sem fazer apologia ao programa global, acredito que, de fato, o BBB seria um “grande irmão” para o telespectador brasileiro se, e tão somente se, houvesse uma reflexão fundamentada e tolerante, que permitisse ampliar o entendimento de si, do outro e do mundo onde habitam.
Por mais que o que tenha maior apelo de “venda” sejam os conflitos ou “barracos” ali travados, ou mesmo uma dose de sensualidade apelativa, ainda há esperança de que os conflitos se deem internamente (dentro do ser e ali se resolvam) sem cair no retrocesso de, como animais irracionais, passarmos a resolver nossas diferenças “no braço” ou “no grito”.
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[i] sobre a verdade, vale a pena ler o artigo de Alexandre N. Machado, disponível em http://problemasfilosoficos.blogspot.com.br/2017/04/a-verdade-e-relativa.html
[ii] https://www.dicionarioinformal.com.br/toler%C3%A2ncia/
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