educação em tempo integral?
- 15 de abr. de 2024
- 5 min de leitura
Educação Integral no Brasil:
É possível?
Hoje, vamos abordar uma questão que tem sido alvo de muitos debates e aspirações políticas: a implementação da Educação Integral no Brasil.
Nos últimos anos, a Educação Integral tem sido uma meta recorrente nos discursos políticos e nos planos nacionais de educação. A ideia de oferecer às crianças e jovens uma formação que vá além das disciplinas tradicionais, abrangendo atividades culturais, esportivas e de lazer, parece ser uma ambição legítima e necessária. Contudo, quando olhamos para a realidade das escolas brasileiras, nos deparamos com uma série de desafios que colocam em xeque a viabilidade dessa proposta.
Um dos principais obstáculos é a precariedade dos espaços escolares, especialmente nas escolas municipais. Muitas delas enfrentam a falta de estrutura adequada para a permanência dos estudantes em tempo integral.
Além disso, questões básicas como a alimentação fornecida pelo Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) nem sempre são garantidas, deixando os alunos em situação de vulnerabilidade nutricional. Como, então, permanecer na escola o dia todo?
Infelizmente, ainda há quem se valha de frases do tipo: "Ainda que precária, a alimentação da escola é melhor que a que eles têm acesso em casa!"
Nivelaremos "por baixo", como se a probreza e a carência social fossem "desculpa" ou "liberação" para um descumprimento de um dever da principal Política Pública nacional?
Outro ponto crítico é a carência de profissionais qualificados e em número suficiente para atender às demandas de uma escola em tempo integral. A ausência de profissionais de apoio sobrecarrega os professores, muitas vezes mal remunerados e sem o devido reconhecimento da importância de seu trabalho.
Além disso, a falta de recursos tecnológicos, materiais didáticos diversificados, bibliotecas e acesso à internet dificulta ainda mais a oferta de uma educação de qualidade. Sem mencionar a dificuldade em universalizar o acesso à Educação Básica, especialmente no que diz respeito às vagas em creche, que ainda são escassas em muitos municípios brasileiros.
Diante desses desafios primários ainda não superados, surge a reflexão:
Será possível alcançar uma Educação Integral de qualidade no Brasil sem antes
garantir uma formação integral?
Uma formação que leve em conta não apenas o tempo de permanência na escola,
mas também a qualidade do ambiente educacional, a valorização dos profissionais da educação, a infraestrutura adequada e o envolvimento efetivo da família e da sociedade?
É evidente que ainda há um longo caminho a percorrer!
Antes de pensarmos em expandir a oferta de Educação Integral, é fundamental investir na formação integral de nossos estudantes e na valorização da educação como um todo. Somente assim poderemos vislumbrar um futuro em que a Educação Integral no Brasil seja uma realidade acessível e de qualidade para todos.
Desafios e Perspectivas da Educação Integral no Brasil
Desde o início do atual mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a Educação em Tempo Integral tem sido uma das prioridades anunciadas para a área da Educação no Brasil.
Em maio de 2023, o Governo Federal lançou o Programa Escola em Tempo Integral, com o objetivo ambicioso de ampliar em 1 milhão de matrículas a oferta dessa modalidade de ensino na Educação Básica em todo o país. Esse programa, instituído pela Lei nº 14.640, sancionada em 31 de julho do mesmo ano, visa atingir a marca de 3,2 milhões de matrículas até 2026, para o que serão disponibilizados 4 bilhões de reais nos próximos anos.
No entanto, a implementação efetiva da educação integral no Brasil enfrenta uma série de desafios significativos. Apesar das metas ambiciosas estabelecidas pelo governo, o país ainda está longe de alcançar os objetivos estabelecidos.
De acordo com dados do Censo Escolar de 2022, apenas uma média de 14,4% dos alunos brasileiros estão matriculados em tempo integral. Essa proporção varia de acordo com o nível de ensino, com taxas de matrícula em tempo integral de 56,8% nas creches municipais, 12,2% na pré-escola, 11,4% nos anos iniciais do Ensino Fundamental e 13,7% nos anos finais.
O estado do Ceará se destaca como um dos líderes na oferta de educação integral, especialmente no Ensino Fundamental e Médio. No entanto, mesmo em estados com melhores índices, como o Ceará, ainda há uma longa jornada pela frente para garantir uma educação integral de qualidade para todos os alunos.
É importante destacar que a oferta da Educação Integral não se resume apenas a ampliar a jornada escolar. Ela envolve uma concepção mais ampla de educação, que busca promover o pleno desenvolvimento intelectual, físico, social, cultural e emocional dos estudantes.
Como ressaltado por Miguel Arroyo, da UFMG, a perspectiva de uma Educação Integral visa formar seres humanos completos, considerando todas as dimensões da sua formação.
No entanto, a implementação efetiva dessa visão de educação integral enfrenta todos esses desafios listados.
O investimento financeiro necessário, que é substancialmente maior do que o investimento em escolas regulares, talvez seja o principal desafio. Mas, ainda há desafios relacionados à formação e contratação de profissionais qualificados, à adaptação das instalações escolares e à elaboração de um currículo que atenda às necessidades dos alunos.
Há evidências de que a Educação em Tempo Integral pode trazer benefícios significativos para os alunos, especialmente em termos de desempenho acadêmico e inserção no mercado de trabalho. Estudos mostram que alunos de escolas integrais têm maior probabilidade de ingressar no Ensino Superior, têm salários mais altos e enfrentam menores taxas de evasão escolar.
Para que esses benefícios sejam alcançados, é necessário um esforço conjunto por parte do governo, das escolas, dos professores e da sociedade em geral. Isso inclui o desenvolvimento de políticas públicas eficazes, o investimento adequado em infraestrutura escolar e a valorização dos profissionais da educação.
A implementação bem-sucedida da educação integral no Brasil requer um compromisso firme com a qualidade e a equidade na Educação, garantindo que todos os alunos tenham acesso a oportunidades de aprendizado que os preparem para enfrentar os desafios do século XXI.
Diante dos desafios destacados e das profundas desigualdades presentes nas redes de ensino, é fundamental priorizar ações que visem superar tais obstáculos antes de avançar plenamente na implementação de escolas com funcionamento em tempo integral.
A qualidade da Educação oferecida deve ser a prioridade, garantindo que todas as crianças tenham acesso a uma educação integral que contemple não apenas a ampliação da jornada escolar, mas também condições adequadas de infraestrutura, formação docente, recursos pedagógicos e apoio socioemocional.
Somente assim será possível assegurar que a educação em tempo integral cumpra verdadeiramente sua missão de promover o desenvolvimento pleno e integral dos estudantes, contribuindo para a construção de uma sociedade mais justa e equitativa.
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